sábado, 29 de novembro de 2008


VOCÊ TEM MEDO DE QUE?

Texto de Maurício Nunes

O mestre do suspense, Alfred Hitchcock dizia que para se livrar de seus medos, fazia filmes sobre eles. Como nem todos são cineastas, incluindo Jorge Fernando, o que você faz para se livrar de seus medos? Reza? Dorme de luz acesa? Não vai na casa da sogra nem que lhe paguem? Aliás, quais são os seus medos? Morrer? Ser demitido? Brochar? Ser traído? Virar fã da banda Calypso? Enfim, medo é um sentimento que todo mundo tem, desde o mais covarde dos homens ao mais temido deles, pois a coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo. O medo também desperta sentimentos bons, como a honestidade e o verdadeiro amor. Uma pessoa sob a mira de um revolver conta sempre toda a verdade e desmente suas próprias mentiras. Uma pessoa à beira da morte, revela suas maiores paixões e seus verdadeiros amores. O medo de se perder alguém, também desperta o romantismo, não? Mas medinho gostoso mesmo é aquele no escurinho do cinema, onde a gente sabe que é tudo mentira, mas o sangue gela e a mão da nossa companhia quase quebra de tanto que se aperta. Aquele medo que dá asas aos nossos pés e agente flutua pela sala. O cinema é responsável por alimentar este nosso medo e grandes diretores se renderam à arte de assustar, de apavorar os seus espectadores. Kubrick com seu claustrofóbico Iluminado, Polansky com o quase real Bebê de Rosemary e por aí afora. Mas convenhamos que há anos não surgem filmes assustadores, porém como nem tudo esta perdido esta semana eu fui posto à prova de coragem ao ver o filme REC, uma produção espanhola, que os americanos que não são idiotas, já compraram os direitos e estão lançando o remake com o nome de Quarentena. A história – vamos nos conter no espanhol, porque foi ele que eu vi – beira o documentário lembrando um pouco Bruxa de Blair pela idéia até aquele momento inovadora e agora sim bem aproveitada, neste filme assustador. A trama gira em torno de um documentário sobre os bombeiros, que acaba levando a equipe da TV pra dentro de um prédio onde há uma ocorrência. Para surpresa dos bombeiros, equipe da TV e moradores o prédio é interditado e todos ficam presos lá dentro e claro, a câmera da TV é a nossa visão de tudo. Estamos lá dentro com esta turma. Aí meus caros começa o inferno. Com atores excelentes que de tão convincente chega a ser documental, o filme é uma montanha russa de sustos e de sensações também claustrofóbicas. A direção envolve a platéia a cada cena numa numa teia de mortos vivos, suicídios, desespero, ocultismo, pânico, tudo bem diferente da maioria dos filmes atuais, e pasmem vocês, o final não é idiota e sim a parte mais aterrorizante do filme. A jornalista e o câmera da TV ficam presos num dos quartos, porém sem equipamento de luz usando apenas o nightshot da câmera (visão noturna) e aí desperta-se no espectador o seu medo mais sombrio. A criatura vista na tela é apavorante e mostra que os efeitos técnicos de computação gráfica servem apenas pra deixar o filme pronto pra matinê, pois se quer ter medo mesmo aposente o computador e vamos à criatura REAL. Meus caros sete leitores, eu assisti o filme ao lado de um expert no assunto, meu grande amigo Rubão - diretor de terror considerado o novo Zé do Caixão – e ele me confidenciou que foi o filme mais aterrorizante que ele viu. E posso dizer que o peso desta frase dele é a mesma de uma indicação minha sobre Woody Allen. Não vou falar mais (já falei muito) pra não estragar a surpresa, porque fãs do terror: vão ver esta obra. Inovadora, simples, rápida (80 minutos), mas se entrar na história dá pra se levar uns bons sustos. Esta sensação, o medo, deve ser apreciada também, assim como a sensação do prazer, da dor, da alegria, do orgasmo, pois a cada sensação desta nos sentimos vivos e desta forma nos tornamos melhor em algum aspecto, ao notar que a vida vale a pena e que ter medo do escuro é absolutamente normal, o que é imperdoável é termos medo da luz. Arrepiem-se!
Postado por Cinelândia às 19:10

Nenhum comentário: